Grão de areia

  Cidade grande é uma coisa louca. Tem gente pra tudo enquanto é canto, tem todos os tipos de profissões em menos de um quarteirão, tem gente que não dorme nunca pra fazer a cidade andar. É carro que não para de passar, é barulho que não silencia. É gente na gaiola que não consegue sair. São milhares de maneiras de se divertir, dá pra escolher onde ir. Às vezes você não conhece nem o vizinho da frente, mas em compensação, demora mais de horas pra chegar na casa de um amigo seu. Tem gente que gosta da cidade, dessa correria maluca, dessa sensação de que nada nunca para. Eu também gosto da cidade.

  O ruim é que na cidade, não dá pra ver o céu. Eu sinto falta das minhas estrelas, de dormir com a janela aberta e conversar com elas, e acordar com um raio de sol batendo do rosto. O ruim é que pra fazer amizade na cidade depende somente da confiança, não dá pra pensar: “ele é filho de fulano, a família é boa, deve ser legal também”, aí as chances de decepções são bem maiores. E o amor na cidade, será que existe?É raro ver casais com olhar de cumplicidade, com mais de anos de relacionamento. Amor aqui, se encontra na balada, no barzin... Não se esbarra na padaria, ou no trabalho, ou fazendo uma caminhada por aí.

  Cidade é coisa de louco,é pra quem quer, pra quem aguenta, quem tem estrutura psicológica pra solidão. É muita gente e pouco afeto, aí você acaba passando muito tempo sozinho.

  Tô com saudade do meu fim de mundo, das pessoas gentis, da confiança sem medo, da simplicidade, do afeto, das estrelas, do meu céu. Ah, quanta saudade do céu! (...) Apesar de gostar da cidade, apesar de gostar de tanta correria, eu não tenho estrutura psicológica pra continuar aqui.

"Às vezes me pergunto se vale mesmo a pena, se não é melhor desistir... mas nunca consegui responder.

É tanta vontade de continuar e tanto medo de dar errado..."

Aurora Boreal