terça-feira, abril 9

Um café, um livro e uma história



  Foi em um intervalo de aulas da faculdade onde ela saiu pra tomar um café e ler mais um capítulo do livro que estava na bolsa a mais de um mês, que ela o conheceu. Um calouro meio perdido, que ainda não havia se acostumado com a nova vida, veio perguntar se ela gostava da trilogia Harry Potter, mas ficou sem graça ao perceber que o livro que ela estava nas mãos não era da série.
- Desculpe, vi a cor da capa e me enganei. - Disse, desajeitado.
- Não se desculpe! Desde que comecei a ler várias pessoas já me perguntaram a mesma coisa. Antes fosse, é só mais um livro para ajudar no curso. - Ninguém havia feito essa pergunta antes, mas ela gostou dele, queria conversar.
- Ah é, que bom. E você faz o que?
- Direito - o estilo alternativo da garota o fez pensar que em algo menos sério, então ele fez uma cara de espanto - Ta, eu sei, não combina comigo, mas sei lá, eu gosto. Mas e você, ta começando o que?
- Engenharia - foi a vez dela se espantar, pois o garoto tinha um estilo tão podrinho que a fez pensar em algo relacionado a artes - Ta eu sei, não combina comigo - Os dois riram.
  Eles conversaram até o fim do intervalo, e no dia seguinte, e no outro, e no outro... Ela era dois anos mais velha do que ele mas acreditava seriamente que podia dar certo e ele só queria mais experiência. Como o previsto, se apaixonaram, e como ela acreditava, deu certo. Foram três anos de passeios, viagens, declarações, e algumas brigas. Todo casal briga, é necessário. E foi em uma dessas, onde ele não reparou no seu nove corte de cabelo para a data especial, que aconteceu:
- Eu não acredito que você não viu! - Disse ela nervosa.
- O quê? - Era o maior clássico do seu time de futebol e que decidia o campeonato, ele não desgrudava os olhos da TV.
- Como o quê? Olha pra mim! - ela desligou a televisão num impulso de raiva e ele, sem escolhas teve que olhar.

- Ta, o que é?
- Meu cabelo, meu novo corte, o vestido novo e o presente que comprei pra você. Já cheguei a meia hora e você quase não olhou pra mim. Só falta dizer que esqueceu.
- Esqueci... esqueci o que? - ele já estava achando engraçado.
- Ta vendo, é isso. Vou embora!
- Espera! - disse ele puxando-a pelos braços - Não vai. Só estava brincando com você sua boba! É claro que eu me lembro.
- Eu te odeio por ser tão imaturo! Se lembra mesmo? Então o que é?
- Nossos três anos, três anos daquela xícara de café.
- Ah, seu idiota!
- Linda! - tirou a caixinha do bolso e pediu - Casa comigo?
  Eles se casaram depois de um ano. Ela era uma advogada com um grande reconhecimento e ele estava quase se formando. Construíram uma vida juntos, uma casa, uma família. Tiveram três filhos, dois meninos e uma menina. Continuaram a viajar, a passear e fazer declarações. Trinta anos depois, seus filhos cresceram, um se tornou engenheiro como pai e os outros fizeram Música e Jornalismo, talvez combinasse mais com eles.
  Depois de tanto tempo de convivência e de histórias juntos, a paixão finalmente esfriou. Eles já não sentiam mais as mesmas coisas de antes, já não tinham mais vontade de continuarem juntos. As brigas se tornaram frequentes,muito frequentes e até que acabou.
- Então é isso? - ela perguntou em lágrimas.
- Acho que sim - ele respondeu, também em lágrimas. Deu-lhe um beijo na testa e saiu.
Foi em um dia nublado e frio que ela viu o "cara certo" sair da sua vida. Depois de trinta e três anos ele conseguiu a experiência que buscava no início.
- Foi uma separação tranquila, a gente não sofreu, é só a paixão que acabou - eles explicaram para os filhos - A nossa história foi linda e nos deu nossos bens mais preciosos, vocês.
  Ele se mudou para um apartamento pequeno e passava a maior parte do tempo assistindo a filmes antigos, da época em que eles iam ao cinema. Ela tomava café sozinha todas as tardes, e lia livros da época da faculdade. Fazia bem para ambos lembrar de tudo aquilo, a paixão tinha acabado mas o carinho não. E foi assim até o fim dos dias.

Aurora Boreal

No decorrer do tempo, aquela vontade de ficar junto, aquele desejo incontrolável pela outra pessoa passa. Mas o carinho, o amor pela história que tiveram, ah, esse nunca acaba. Certas coisas foram feitas para serem eternas mesmo que sem querer.
P.S Eu não sou muito boa com contos mas queria variar um pouco o conteúdo do blog. Espero que gostem.

3 comentários:

Letícia Gomes disse...

Borealíssima (:

fazia um tempinho que eu nao vinha aqui! sempre me lembro de como voce cuida do meu blog com carinho, te agradeço muito pela atenção (embora eu quase nunca esteja no blogosfera)
e que texto doce... bastante real, né? um cronica que pode ser compreendida por todo mundo que ja se apaixonou <3
mas eu confesso que quero um amor pra vida toda, acho tão fofo! hahaha

desculpa minha ausencia do teu blog, prometo que sempre que postar algo, farei uma visita.. teu cantinho me deixa tão em paz (:

beijos

Jhosy Ane A.S. de Gusmão disse...

Acho que eles fizeram tudo certo,
menos conservar o amor...
Cultivá-lo, lutar por ele, apegar-se a ele, renová-lo.
Penso que isso tudo é necessário, escolher se entregar ao sentimento, mas também decidir vivê-lo apesar de todos os seus desafios - e penso que o tempo é o maior deles.

O conto foi lindo!

Um beijo e uma excelente semana!
Jhosy

http://meninamsicaeflor.blogspot.com.br/

Heloisa Moraes disse...

Confesso que fiquei triste. Ainda acredito em vida a dois e felizes para sempre!

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Antes de mais nada quero agradecer por me visitar, e por ler.
Eu realmente espero que tenha lido, gostado e se encontrado em alguma linha ou em alguma palavra. E se isso aconteceu ficarei muito feliz se você contar pra mim. Conta?! (:
Obrigada mais uma vez e volte sempre!
Beijos, Aurora.