sábado, maio 31

Relatos de uma mulher de bom coração

Eu tinha 18 anos quando precisei sair de casa, ou quando julguei precisar. Deixei pra trás tudo que eu acreditava não necessitar mais, tudo que eu cansei de ser: todas as minhas dores, todas as decepções, todas as pessoas boas, todas as pessoas ruins... Saí carregando na mala apenas um pouco de roupa e milhares de sonhos. Sonhos... eles sempre me alimentaram. Foram eles que me fizeram seguir.

Eu tinha 18 anos quando inventei uma nova vida que eu jurava que seria melhor. Eu fiz planos e prometi a mim mesma que iria cumpri-los. Vivi uma liberdade que sempre desejei sentir. Senti uma felicidade que nunca consegui buscar. Busquei caminhos que nunca imaginei esbarrar. Esbarrei em obstáculos que não esperava encontrar. 

Obstáculos. A vida é feita deles. Eu já havia lido sobre isso a vida inteirinha em livros mal escritos de uma literatura adolescente. Já havia escutado em músicas de bandas ruins. Já havia aprendido em caminhos errados. É a frase mais clichê: "A vida é feita de obstáculos". E se é clichê, é porque muita gente já disse. E se muita gente já disse, é verdade. É a mais dura verdade. A mais dolorosa das verdades. A vida é cheia de obstáculos e, se a gente não prestar atenção no caminho, podemos nos machucar em um deles.

Eu nunca tinha me machucado. Não tão forte como agora. Pouco mais de dois anos que sai de casa, não tenho mais mala, minhas roupas não me servem mais. Tudo que eu deixei pra trás já se perdeu, todas aquelas relações, mesmo que com laços bambos, não existem mais. Eu perdi meus sonhos também. E por perdê-los, me perdi.

Eu não sei mais quem sou, o que estou fazendo, onde me encontro e o que quero seguir. Sou uma sobrevivente. Mas não uma sobrevivente no sentido bonito da palavra, do tipo de pessoa que passar por tudo e ainda vive. Sou uma sobrevivente no sentido da pessoa que apenas respira, sem viver. Eu, realmente, não vejo mais sentido em nada que eu faço e isso não me faz nada bem.

Às vezes, eu volto em memória no tempo tentando encontrar naquela garota que ainda morava com os pais todos os sonhos que ela tinha, todos os planos que ela fazia... E fico me perguntando como deixei chegar a esse ponto? Como sai do caminho planejado? E por que julguei que era o caminho certo?

Eu não sei onde estou. E isso me assusta, porque se eu não sei onde me encontro, fica muito mais difícil seguir em frente. Se eu não sei onde me encontro também não sei pra onde ir. Mas eu preciso ir. Eu preciso encontrar uma maneira de sair daqui. 

Quando eu tinha 18 anos, eu sai do casulo e acreditava que eu era a mais bela borboleta. Fiquei encantada com a minha liberdade, mas nunca soube o que fazer com ela. Já se passaram mais de dois longos anos e eu ainda sou uma borboleta perdida. Hoje, mais perdida do que antes. E eu não consigo me encontrar.

Aurora

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